Reforma do Código Civil: por que pressa demais pode ser um risco?
- BPIF
- 24 de jun.
- 2 min de leitura
O Código Civil é um dos pilares do nosso ordenamento jurídico. Ele organiza regras essenciais para a vida em sociedade: contratos, propriedade, relações familiares, sucessões e muito mais. Justamente por isso, qualquer alteração nesse conjunto de normas precisa ser feita com cuidado, responsabilidade técnica e amplo debate com a sociedade.
Mas o que estamos vendo no Congresso pode ir na contramão disso.

O que está em discussão?
O Projeto de Lei nº 4/2025, atualmente em tramitação no Senado, propõe uma reforma ampla e profunda do Código Civil. O problema? O texto foi produzido em tempo recorde — apenas 180 dias — por uma comissão de juristas designada pelo Senado. Embora envolva profissionais experientes, o cronograma acelerado levanta dúvidas se houve tempo hábil para compreender e tratar adequadamente toda a complexidade do Código Civil brasileiro.
Para se ter ideia, países como Alemanha e França levaram décadas de debates, audiências públicas e revisões técnicas antes de reformar seus Códigos Civis.
Por que isso preocupa?
O projeto atual altera regras fundamentais do direito civil e introduz novos conceitos jurídicos, como "atividade de risco especial" e "situação de risco". Termos vagos como esses abrem espaço para interpretações contraditórias e insegurança jurídica, o que pode gerar aumento no número de ações judiciais e entraves para as empresas.
Outro ponto delicado é a ampliação das hipóteses de indenização para consumidores em casos de danos coletivos, o que, apesar de positivo em alguns aspectos, pode gerar um ambiente de judicialização excessiva e imprevisibilidade jurídica, prejudicando negócios e investimentos.
Reforma é necessária, mas precisa ser técnica e responsável
Ninguém discute que o Código Civil deve acompanhar as mudanças sociais, econômicas e familiares. Propostas como a valorização das cotas empresariais em caso de divórcio ou o fortalecimento da proteção patrimonial são avanços positivos.
Mas aprovar um texto tão sensível em ritmo acelerado pode gerar distorções difíceis de corrigir no futuro.
O que esperar daqui pra frente?
O ideal seria que o projeto passasse por mais debate técnico, audiências públicas e ajustes antes de seguir adiante. Afinal, o Código Civil impacta a vida de todos: empresas, famílias, investidores e cidadãos comuns.
Para o BPIF, acompanhar de perto essas mudanças e entender seus possíveis efeitos é fundamental. Uma reforma bem construída pode modernizar o sistema jurídico brasileiro. Mas feita às pressas, ela pode trazer mais problemas do que soluções.
As informações aqui apresentadas têm como base matéria publicada no jornal Valor Econômico, no dia 16 de junho de 2025, de autoria do advogado Alan Bousso.
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